sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Eu e a Maçonaria


Não consigo compreender o problema que alguns têm com a Maçonaria, nem qual a vergonha de alguém se assumir como Maçon: ser Maçon é ter uma profissão nobre como outra qualquer. 
Passo a explicar, contando esta pequena história sobre a minha relação com a Maçonaria, tentando elucidar as mentes mais distraídas:

Andava eu pelos meus 23/24 anos, quando, após uma noite muito bem regada (com comparsas onde se inclui o outro escriba deste blog) e recheada de peripécias, cheguei a casa a horas que o Venerável considerou indignas. Ah, as eternas questiúnculas geracionais!

Visto que a minha capacidade de argumentação estava bastante toldada, não o consegui convencer a abdicar da ideia de me instruir uma acção pedagógica - vulgo castigo – que consistiu em fazer de mim o servente do pedreiro (que, como se sabe, se diz Maçon em francês) que andava a construir um anexo lá em casa. Tentei – juro que tentei! – demovê-lo, mas a reincidência na hora de chegada (aliada, vá, a algum laxismo na hora de pegar nos livros, com as devidas consequências nas respectivas épocas de exame) precipitou a minha entrada nesse mundo obscuro. “Bem-vindo ao mundo da Maçonaria” poderia ter sido o lema desse final de noite/início de manhã, ao contrário do rude e vil “Pega nos baldes de massa antes que a gente tenha que se chatear a sério” com que se fui prendado no meu ritual de iniciação. 

Ora, se à minha vontade inicial (que era nula) se juntar a necessidade da ingestão frequente de líquidos, aquelas primeiras horas de Maçonaria foram um completo tormento. Vi e ouvi coisas muito chocantes. Senti-me deslocado. Vivi momentos absoutamente traumáticos, enquanto acartava baldes de massa à razão de 4 a 6 baldes por minuto e ouvia o “Tó”, o Grão-Mestre da Maçonaria Pegacha a dizer para ser mais rápido e que já tinha visto “gajas com mais bigode que tu a queixarem-se menos”. Pudera, pensava eu: a capacidade de sofrimento de um ser humano é directamente proporcional à sua capilosidade infra-nasal… Isso é uma verdade universal que o povo português tem vindo a demonstrar nos últimos 9 séculos e pela qual deixei crescer uma barba que já não vê Gilette vai para 4 anos!

Aqui se compreende o sofrimento do aprendiz de Maçon: enquanto ser Maçon é, por si só, uma posição honrada, onde se pode (deve!) exigir o melhor do seu ajudante, utilizando todo o vernáculo possível e imaginário, o intuito nobre é o de preparar o pobre servente para um mundo duro, lá fora, para que um dia possa ser ele próprio um Grão-Mestre da alvenaria. Por seu lado, o imberbe aprendiz resigna-se a uns secos “tá bem” e “não me moas o juízo”… Registe-se a filantropia de tudo isto: o real reforço do carácter através da busca pela perfeição – haja cerveja e asneirada, claro… 

E enquanto balde vai e balde vem - no meio de dialectos estranhos, com palavras e expressões como "batenêra", "ai mãããã" e "tu és mazé malhuque" - recomeçam a entrar os líquidos mais frescos na garganta e toda a bruma desvanece e a razão pela qual tudo aconteceu começa a sobressair: construir um abrigo – há quem lhe chame poiso – onde poderemos albergar os nossos e, no final, receber (ou poupar) uns cobres por isso.

E, ao cair da noite, a verticalidade da Organização dilui-se e invade-se um espírito de fraternidade e igualdade indescritíveis: o chouriço assado e o pão são divididos irmãmente e o vinho “é para acabar, que na fica aí a fazer nada”.

Só não percebi a parte de usar avental e colares: o meu Grão-Mestre usava uma pá de pedreiro e um palito ao canto da boca, que lhe impunham grande respeito e lhe davam um ar bem menos apaneleirado!

3 comentários:

  1. Muito muito bom, até porque conhecendo o interveniente, mais facilmente consegui construir no meu imaginário, o desenrolar da acção. Boa Sorte com o blog, têm aqui um leitor atento !

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  2. Nada faz mais sentido do que ter o Rui como primeiro comentadeiro.

    Sobre o texto, voltarei mais tarde. Agora é dia de papelinhos no ar e um dj manhoso encontrado por acaso na estrada que vinha cá dar.

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  3. a camaradagem é exemplar nessas organizações....

    João Alberty

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