Não consigo compreender o problema que alguns têm com a
Maçonaria, nem qual a vergonha de alguém se assumir como Maçon: ser Maçon é ter
uma profissão nobre como outra qualquer.
Passo a explicar, contando esta pequena história sobre a
minha relação com a Maçonaria, tentando elucidar as mentes mais distraídas:
Andava eu pelos meus 23/24 anos, quando, após uma noite
muito bem regada (com comparsas onde se inclui o outro escriba deste blog) e
recheada de peripécias, cheguei a casa a horas que o Venerável considerou
indignas. Ah, as eternas questiúnculas geracionais!
Visto que a minha capacidade de argumentação estava bastante
toldada, não o consegui convencer a abdicar da ideia de me instruir uma acção
pedagógica - vulgo castigo – que consistiu em fazer de mim o servente do
pedreiro (que, como se sabe, se diz Maçon em francês) que andava a construir um
anexo lá em casa. Tentei – juro que tentei! – demovê-lo, mas a reincidência na
hora de chegada (aliada, vá, a algum laxismo na hora de pegar nos livros, com
as devidas consequências nas respectivas épocas de exame) precipitou a minha
entrada nesse mundo obscuro. “Bem-vindo ao mundo da Maçonaria” poderia ter sido
o lema desse final de noite/início de manhã, ao contrário do rude e vil “Pega
nos baldes de massa antes que a gente tenha que se chatear a sério” com que se
fui prendado no meu ritual de iniciação.
Ora, se à minha vontade inicial (que era nula) se juntar a
necessidade da ingestão frequente de líquidos, aquelas primeiras horas de
Maçonaria foram um completo tormento. Vi e ouvi coisas muito chocantes.
Senti-me deslocado. Vivi momentos absoutamente traumáticos, enquanto acartava
baldes de massa à razão de 4 a 6 baldes por minuto e ouvia o “Tó”, o Grão-Mestre
da Maçonaria Pegacha a dizer para ser mais rápido e que já tinha visto “gajas
com mais bigode que tu a queixarem-se menos”. Pudera, pensava eu: a capacidade
de sofrimento de um ser humano é directamente proporcional à sua capilosidade
infra-nasal… Isso é uma verdade universal que o povo português tem vindo a demonstrar
nos últimos 9 séculos e pela qual deixei crescer uma barba que já não vê
Gilette vai para 4 anos!
Aqui se compreende o sofrimento do aprendiz de Maçon:
enquanto ser Maçon é, por si só, uma posição honrada, onde se pode (deve!)
exigir o melhor do seu ajudante, utilizando todo o vernáculo possível e
imaginário, o intuito nobre é o de preparar o pobre servente para um mundo
duro, lá fora, para que um dia possa ser ele próprio um Grão-Mestre da alvenaria.
Por seu lado, o imberbe aprendiz resigna-se a uns secos “tá bem” e “não me moas
o juízo”… Registe-se a filantropia de tudo isto: o real reforço do carácter
através da busca pela perfeição – haja cerveja e asneirada, claro…
E enquanto balde vai e balde vem - no meio de dialectos
estranhos, com palavras e expressões como "batenêra", "ai mãããã" e "tu és mazé
malhuque" - recomeçam a entrar os líquidos mais frescos na garganta e toda a
bruma desvanece e a razão pela qual tudo aconteceu começa a sobressair: construir
um abrigo – há quem lhe chame poiso – onde poderemos albergar os nossos e, no
final, receber (ou poupar) uns cobres por isso.
E, ao cair da noite, a verticalidade da Organização dilui-se
e invade-se um espírito de fraternidade e igualdade indescritíveis: o chouriço
assado e o pão são divididos irmãmente e o vinho “é para acabar, que na fica aí
a fazer nada”.
Só não percebi a parte de usar avental e colares: o meu
Grão-Mestre usava uma pá de pedreiro e um palito ao canto da boca, que lhe impunham
grande respeito e lhe davam um ar bem menos apaneleirado!
Muito muito bom, até porque conhecendo o interveniente, mais facilmente consegui construir no meu imaginário, o desenrolar da acção. Boa Sorte com o blog, têm aqui um leitor atento !
ResponderEliminarNada faz mais sentido do que ter o Rui como primeiro comentadeiro.
ResponderEliminarSobre o texto, voltarei mais tarde. Agora é dia de papelinhos no ar e um dj manhoso encontrado por acaso na estrada que vinha cá dar.
a camaradagem é exemplar nessas organizações....
ResponderEliminarJoão Alberty